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CORAÇÃO EM PEDAÇO MÃE DE AÇO / MARIA GIL

Atualizado: 19 de abr.

LIVROS & ESCRITORES

MÃE ENLUTADA. 1/02/22, um Ano, um mês sem sua presença meu amado filho ANDRÉ GIL! VAI DOER muito nos dias 24 e 31/12 quando o Relógio badalar 00:00h e FALTAR MEUS TESOUROS que já se foram para abraçar e ouvir e dizer: Feliz Natal e Feliz Ano Novo. Oh! Dor que dói no fundo da minha Alma e Coração.

E veio o inverno, e veio a escuridão e veio o carnaval. Aceitei um convite e fui. Ao toque da marchinha “Por causa de uma Colombina...” No meu caso, foi por causa de uma Pandemia, acabei chorando. Enquanto todos cantavam e dançavam, eu chorava porque te enxergava no meio dos foliões, mas não conseguia te tocar.

É nesse tempo que se entende o que é solidão. Eu tentei, tentei esquecer, mas no meu coração me lembrava de você André. Então já era. Um Carnaval sem você. Assim os blocos que enfeitavam a cidade, se integraram na saudade e morreram para mim.

Tudo sem razão, pois sua presença me aquecia muito mais do que irradia essa marchinha “mamãe eu quero ...” E assim se vai um ano. Um ano sem você, mas saiba que você estará sempre aqui, meu filho! O seu lugar, a sua casa será sempre o meu coração. Eu sei que não vou ter mais sua presença, filho, como vou aguentar esta saudade?

Eu sei que acabarei por aceitar esta dura realidade, mas acho que nenhuma mãe está preparada para perder um filho assim deste jeito. E eu confesso que nunca vou lidar bem com sua Páscoa, mas prometo, por mim e também por você, meu filho, que vou encontrar paz no meio de toda esta saudade. Vou arrumar um jeito para encontrar de novo a felicidade. E sim, pode ter certeza, que vou homenagear todos os dias o filho maravilhoso que a vida me deu.

Descanse em Paz, amado ANDRÉ, nos braços de Deus. SAUDADES sem FIM.

“E assim se …

Um ano, filho querido WANISON ANDRÉ GIL PESSOA. Hoje completa um ano que nos despedimos de uma forma inadequada. Você lutou como um grande GUERREIRO, mas a morte lhe venceu. É injusto que nosso adeus tenha sido dito sem palavras, verbalizado apenas com lágrimas e acontecido com a sombra da morte como contexto.

Meu grito de dor ainda ecoa no meu coração. Os dias têm sido longos desde que você partiu. Sem a luz da sua presença, fica difícil sentir verdadeira alegria porque todos os momentos parecem inacabados, todos os acontecimentos parecem incompletos e essa sensação de vazio se estende por longas horas, desde o raiar do sol até entrar pela noite dentro.

Às vezes, nem sei como agir para aliviar esta dor. Por um lado, fico lembrando tudo que vivemos, remexendo nossas lembranças de forma incansável, pois isso me dá a percepção que nem tudo se perdeu. Mas por outro, fazer isso me esgota emocionalmente, pois no fundo sei que esse hábito apenas serve para adiar o inevitável.

Nenhuma mãe está preparada para perder seu filho. É uma tragédia que nos atiram para as mãos e que sentimos como se ela fosse uma chama nos queimando. Apesar disso, continuarei tentando erguer a cabeça e lutar contra esses fantasmas, pois sei que era isso que você mais queria.

Mesmo com poucas forças, prometo que não vou desistir, meu filho. Talvez o amor que construímos se revele minha fortaleza e me ampare, me console, me segure sempre que a aflição parecer grande demais para ser suportada Te amarei para sempre meu filho André.


O FEIJÃO NÃO DEGUSTADO

Lembro-me como se fosse hoje, eu estava em casa fazendo trabalho escolar, quando ouço o soar de palmas na porta que me tiram a atenção no trabalho. Paro e, quando vejo, estava lá, o meu irmão WILK. Abri a porta, cumprimentei-o e pedi que entrasse. Após as conversas corriqueiras de família, colocamos as novidades e conversas em dia. Era quase meio-dia, quando, de repente WILK pergunta: mano você fez aquele feijão gostoso que só você sabe fazer? Respondi: hoje não fiz mano, mas vem amanhã que eu vou fazer bem caprichado. Era uma quinta-feira. Ele retrucou: virei no sábado, mas faz bem gostoso. Confesso que fiz no capricho, com tudo que tinha direito; entretanto, o saboroso feijão, meu irmão não chegou a degustar, porque no sábado, meu querido amigo e irmão já NÃO VIVIA mais para saborear o famoso feijão que ele tanto gostava. Inerte em meus pensamentos, olhava para a panela de feijão não degustado pelo WILK. (Raymar Gil de Castro - Irmão)

Considerações Finais

Caro leitor, finalizo esta obra prima com a certeza de que encontrei forças no ser supremo, no Todo Poderoso, Onisciente, Onipotente, Onipresente, o único, o DEUS que tudo pode e, você também, com muito esforço, pode encontrar conforto, garra, forças para superar e vencer essa perda que tanto maltrata nossos corações.

Que as luzes divinas envolvam essas mães em um abraço amoroso, concedendo-lhes força e coragem para enfrentar a dor da perda e transformá-la em esperança e fé. Quando vocês mães sentirem a lembrança dolorosa do filho amado falecido, encontrem em Vós a serenidade necessária para seguir em frente, sabendo que seu filho continua vivo na eternidade e nos caminhos do amor infinito.

Realmente fiquei perdida diante das minhas perdas, sem saber como lidar com uma coisa tão triste e inesperada. Espero nunca mais passar por isso e, meu desejo é que nenhuma mãe enterre um filho, mas caso aconteça com você mãe, ou com alguém próximo, tenho plena certeza que essas experiências irão ajudar muito e, com os depoimentos apresentados aqui, muita gente vai mudar a maneira de agir e pensar com as pessoas que passam por esses momentos tristes.

Suplantar as dificuldades e a dor da perda de um filho só com muito amor, tempo e tolerância consigo mesmo. A dificuldade que eu tive é também a que os outros tem em lidar com a morte e que o silêncio muitas vezes manda a mensagem de apatia. Quando se vive uma dor dessa grandeza, qualquer tipo de amor, solidariedade e compaixão serve como um bálsamo, um acalento para o coração.

Compreendi que o luto decorrente do suicídio tem características muito próprias. “Não se trata de medir ou comparar a dor em relação a outras perdas. Porém, as particularidades que o ato envolve dão uma dimensão muito maior ao processo deste luto”, explica a psicóloga Karen Scavacini, co-fundadora do Instituto Vita Alere, de prevenção ao suicídio.

A verdade é que independente de religião, em toda dificuldade temos a possibilidade de encontrarmos uma oportunidade. A oportunidade de crescimento, de evolução, de ser feliz dando valor para o que realmente faz a diferença, de encontrar e conhecer pessoas que sempre trazem mais luz as nossas vidas, como as minhas famílias Castro Gil, Gil Pessoa e Gil de Castro, estas foram, estão sendo e serão meu suporte, meu baluarte, meu TUDO. Com esse apoio, estou de pé, perseverante, altruísta e compartilhando conhecimentos e aprendizado que busquei como autoajuda.

Uma MÃE, suporta tantos momentos de desesperos e medo, mas, nada é comparável como a perda de um filho. Recomendo a quem puder, fazer um projeto com políticas públicas para a criação no amazonas de uma Associação de Acolhimento com o atendimento psicossocial do serviço público, para que essa proposta ajude e acompanhe mães e outros parentes de vítimas de perdas, na sua ampla diversidade para que essas mães tenham com quem falar sobre suas trajetórias, seu sofrimento, suas agruras e possam deixar de viver suas histórias em silêncio e na solidão e expô-las para o mundo, uma forma de desabafar aquilo que machuca, dói no interior do coração e que, sai muito tímida através das lágrimas que escorrem nos rostos tão sofridos daquelas mães com o coração em pedaços e que são Mães de aço.

Ouvindo as palestras e lendo textos, essa passagem também me trouxe iluminação, para esclarecer as perguntas que me atormentavam, por não encontrar respostas:

“Perdê-la na pandemia foi muito difícil porque eu me uni a dor de milhares e milhares de pessoas que estão precisando sepultar as pessoas que amam sem um rito de despedida”.

“Acho que nunca estivemos tão necessitados de acessar o Sagrado que nos habita, porque para suportar o caos e o absurdo, só mesmo estando com os pés muito fincados naquilo que é Sagrado em nós, aquilo que não é negociado, aquilo não pertence ao contexto da banalidade. E, hoje, nós que queremos ser religiosos, neste mundo tão sofrido, a única religião que convencerá aos que não creem como nós cremos é o amor, é o respeito, é a solidariedade, é a união.” (Padre Fábio de Melo)

Entendi que Deus é perfeito. Nem tudo é como desejamos, mas tudo que vem a nós deve ser recebido com amor e resignação.

A vida é feita de momentos felizes e tristes, que devem servir de aprendizado”.

Aproveito para dizer a todas as mamães de coração, como as titias, em especial, minha irmã Socorro Gil, que o que determina a maternidade não é o nascimento no corpo físico, mas na alma. Felicito todas: as que deram à luz, as que não deram, as mães de anjo e de coração”, por este ato divino.

Desejo ainda, que esse livro, traga paz e compreensão às mães enlutadas, mostrando que a vida continua além desta existência terrena, e que o vínculo entre mãe e filho é eterno, transcende o tempo e o espaço! Que preencha os corações das mães com amor e compaixão, e que possam encontrar consolo e esperança na certeza de que, um dia, todos nos reencontraremos, num abraço repleto de amor e luz. Que traga consolo e força a esses pais, ajudando-os a suportar a dor da perda e a encontrar esperança e fé na continuidade da vida.

Que os pais enlutados encontrem em Deus, a serenidade e coragem, e que a memória de seu filho traga não apenas tristeza, mas também a lembrança de momentos de alegria, amor e união. Que tragam conforto aos corações dos pais, mostrando que o vínculo de amor entre pai e filho é eterno e indestrutível, estendendo-se para além deste plano terreno.

 

MARIA DO ESPÍRITO SANTO DE CASTRO GIL – Educadora aposentada e cerimonialista. Tem formação em Pedagogia e em Letras. Especialista em Coordenação de Projetos e em Psicopedagogia. Pertence as seguintes entidades culturais: Academia de Literatura, Arte e Cultura da Amazônia – ALACA; Associação dos Escritores do Amazonas – ASSEAM. Seus escritos fazem parte de diversas antologias. É autora das seguintes obras: Socorro Gil - Experiências de superação, de família e de fé; Manual de orientação para as APAEs do Amazonas: servir com eficiência e eficácia; Cartilha FEAPAES-AM e família:  um novo olhar que vai além da deficiência. A. Sua atual obra apresenta o seguinte título:  CORAÇÃO EM PEDAÇO, MÃE DE AÇO (2024).

  

BIBLIOTECA RAIMUNDO COLARES RIBEIRO

Transcrito do livro CORAÇÃO EM PEDAÇO MÃE DE AÇO, Maria Gil, Editora Performance, 2024, páginas 82/87.

 

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