LIVROS & ESCRITORES

A VOLTA
Foram anos de ausência... mas voltei
a rever o edênico conjunto
de lagos, de igapós, e de “queimadas”,
de furos, chavascais... e as “aguadas”?
Ah! outras terras... Quantas visitei?
Mas nos serões de longas madrugadas
eu vinha livre, solto o pensamento,
embriagar-me de ti, Lago do Rei!
Revia tudo, em puro encantamento:
a fita verde bordejando os lagos;
o abraço das lavínias nas oiranas
de fímbrias lisas devolvendo afagos;
as rendas vivas de murerus floridos
ao doce embalo da aragem e do banzeiro
beijavam franjas soltas de esmeraldas
de lençóis de membeca e matupás
debruçadas nos líquidos canteiros
de canarana, aninga, e marajás.
Na água límpida, eivada de mistério
os botos legendários... de costumes
festivos, de encantos e magia
vão firmando no lago seu império
na eterna procura dos cardumes.
Na morna mansidão das enseadas
a pesca dos pernaltas coloridos,
os pios, assobios, cantos comovidos...
os rasgos das ciganas... e os gemidos
das juritis na vizinha capoeira.
De passagem, maguaris com gestos vagos
vão regendo discretas revoadas
de jaburus, gaivotas, mergulhões,
de socós, arirambas, jaçanãs...
Nuvens de garças surgem no horizonte
junto aos clarões que vem trazendo o dia,
marrecas enxameiam os arrozais,
patos descem na farta “comedia”...
Foram anos de ausência, eu bem sei,
foram anos de ausência, mas voltei!
Lago do Rei, Ilha do Careiro, 1956
BIBLIOTECA RAIMUNDO COLARES RIBEIRO
Transcrito do livro O CAPINEIRO, de Almir Diniz, Editora Uirapuru, Manaus (AM), 2000, páginas 83 e 84.
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