UMA CARTA PARA VOCÊ – 2020 / AJEB-AM (Antologia organizada por Kátia Colares Ribeiro)

CARTAS DE AUTORES COM DEDICATÓRIA A DIVERSAS PESSOAS- PARTE 1

LIVROS & ESCRITORES

Ana Maria Creão da Costa

Carta para uma reflexão

“A vaidade humana sempre guardou a pretensão de manter o CRISTO nos círculos do sectarismo religioso, mas JESUS prossegue, operando em toda parte onde medre o princípio do bem.”(...) (O CRISTO operante- Pão nosso- Chico Xavier- Pelo Espirito Emmanuel, pg87)

Nós que fazemos parte do grupo dos humanos, muitas vezes nos esquecemos que estamos no mundo de passagem, vimos cumprir uma missão. Diariamente semeamos e colhemos o que plantamos durante o tempo em que vivemos, a vida ensina, só nos resta aprender a viver.

Na complexidade humana, encontramos razões, descompassos, ilusões, paixões, amor, desamor, compaixão, ódio, perdão, o bem, o mal, a dor, o prazer e tantos outros sentimentos que possibilitam a uns e outros de nós, na busca muitas vezes de poder se aproximar da perfeição. Não esqueçamos que sofremos influências, que somos flexíveis, sujeitos a instabilidades. Cada indivíduo traz consigo qualidades nobres que podem sofrer mudanças de acordo com situações em que se encontram.

Por que amamos? Por que odiamos? São muitos os por quês que a vida, as circunstâncias, as razões, e os meios favorecem ou desfavorecem a cada um de nós. Somos muito frágeis diante das dificuldades que precisamos enfrentar. E como medir, pesar, calcular ou mesmo expressar a intensidade dos valores que o tempo leva, para as coisas que acontecem em nossas vidas?

Os momentos são espaços pequeníssimos, mas indeterminado, de tempo, marcam as ocasiões, os instantes felizes ou tristes dos muitos acontecimentos que marcam nossas vidas e deixam inexplicáveis tantos motivos que surgem no decorrer das existências.

Para nos redimirmos e reconhecer com determinação que existe um caminho que nos conduz à mudanças, renúncias, transformações, construções, ensinamentos, aprendizagens, crescimento, realizações, conhecimentos e tantas coisas do bem. É o sentimento chamado AMOR! E o que é o amor? Pergunta sem resposta. “Amor não se define. Amor se vive. Amor se dá. Amor se divide”.

Aí está a solução para tantos males, tantas dores, discórdias, conflitos, questões mal resolvidas, tudo que os seres humanos não gostariam de ter, para não gerar a terrível violência, que destrói a própria natureza humana. Quantas discórdias geraram conflitos violentos que dizimaram povos e gerações inteiras em épocas passadas, mas ainda hoje se repetem de forma até mais cruel. Os fatos continuam se repetindo. A exploração do homem pelo homem, está cada vez mais presente em nosso meio, agora com o avanço da tecnologia, vem se tornando mais requintada.

Só o amor traz o bem; o bem constrói é incansável nas suas realizações. Não olha quem vai beneficiar, não tem interesses particulares, apenas realiza as boas ações, sem olhar o valor das coisas ou o tempo que tudo vai durar.

Quem recebe o bem se vê agraciado, favorecido ou mesmo privilegiado. No bem também está presente o amor. Esses e tantos outros acontecimentos temos momentos inesquecíveis, de intensidade inexplicáveis que poderiam nos tornar incomparáveis nas nossas atitudes, nas nossas relações como seres humanos, nesse grande circo que é a vida.

JESUS é sempre o caminho, a verdade e a vida permanentes para o cumprimento divino do amor sobre todos aqueles esperançosos da infinita misericórdia divina. As fraquezas humanas dentre elas a vaidade, o egoísmo, a luxúria, a ira e tantas outras fraquezas nos afastam do bem, do amor, do perdão, gerando desentendimentos, desuniões de maneira geral. Somos frágeis, volúveis e tantas vezes injustos diante de muitas situações que são criadas pelo próprio homem. Precisamos evoluir, nos libertar de muitos apegos materiais, inúteis para nossa eternidade e nossa evolução espiritual.

Novembro de 2019

Ana Maria Creão da Costa

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Arlene de Paula de Paiva

Carta para minha Vó Olinda

Oi Vozinha! Quantas saudades da Senhora.

Sei que a Senhora está bem, em um lugar muito especial, bem pertinho do nosso bondoso Deus.

Deve ser tudo de bom viver aí no paraíso celeste, na companhia do Pai e do Filho, pertinho das estrelas, da lua e do sol.

Deve ser lindo de ver o mundo ai de cima, mas aqui a Senhora deixou um vazio do tamanho de todos os oceanos juntos. Tudo tão diferente, Vó.

Estamos todos caminhando, como Deus assim permite.

Na verdade, Vó, eu ainda não acostumei a viver com o vazio imenso que você deixou, parece que foi ontem que você partiu, porque guardo vivas todas as lembranças boas que tenho de você.

Vó, você também deve sentir saudades da gente, mas pelos menos, está perto do Vô, da Dudi, do Tio Mundinho, Tio Belino, do meu querido Tio Luis, ainda não acostumei com a partida precoce dele, mas Deus sabe de tudo, né, Vó?

Vó, será que a senhora já encontrou com a Jô?

Ela deve está aprontando todas ai, como aquela alegria de viver que tinha. Têm dias que lembro muito dela, e daria tudo para vê-la sorrindo aqui com a gente, principalmente quando a gente bagunçava com ela. Nunca ficou irritada, saudades da minha irmã.

Vó, às vezes me pego pensando como deve ser o paraíso, penso que seja um lugar bem tranquilo, que inspire paz. Um lugar arborizado, com um céu azul, muita grama, e, que as pessoas andam sem pressa, nem tristes no olhar, nem angustiadas, dores, depressão, nem medo de ser assaltadas ou mortas por balas perdidas. Porque aqui vó, está assim, temos medo de tudo e de todos. Não tem mais vizinhos conversando nas portas de casa, nem brincadeiras de crianças nas calçadas, na verdade Vó, a gente nem sabe o nome dos nossos vizinhos. Nunca ver a cara deles, por causa dos muros altos, gradeados e cheios de cercas elétricas, filmadoras, etc. Aqui ninguém mais dar bom dia, boa tarde e boa noite. Todos têm muita pressa. Às vezes, me pergunto, porque temos tanta pressa? Se todo dia fazemos praticamente a mesma coisa.

Ah, Vó, sinto muito, mas muito mesma, sua falta. Saudades de tudo que diz respeito a Senhora. Seu jeito de ser, sua voz mansa e meiga, seu sorriso tímido, o som curtinho de sua gargalhada, suas mãos tão pequeninhas e macia me fazendo carinho nos cabelos, no rosto, seu cheiro, guardei essa fragrância em minha memória ativa, e têm dias que sinto tão real, que tenho a impressão que você está por perto. Vó, lembro do sabor de sua sopa, do bife acebolado e suculento, podia faltar tudo em casa, mas não faltava feijão, arroz e bife. Tempos bons que não voltam nunca mais. Te amo tanto Vozinha.

Mas hoje eu resolvi escrever essa carta como uma singela homenagem de tudo que a Senhora representa em minha vida e dar notícias dos parentes mais chegados e daqueles que não tiveram a felicidade de conhecê-la.

Vó eu voltei para Manaus, voltei pra perto da família.

Vó eu queria tanto que a Senhora tivesse conhecido meus filhos, Rodrigo Thiago e Gabriel Felipe. São dois jovens lindos.

O Rodrigo é meu primogênito, meu parceiro para todas as horas, meu primeiro amor maternal, com ele aprendi a ser mãe. Ele se tornou um jovem estilista, muito promissor, de uma criatividade ímpar. Vó se a Senhora pudesse ver o que Rodrigo faz, ficaria orgulhosa dele, eu sei que ficaria mesmo.

O Gabriel também é um belo rapaz, faz faculdade de Direito, trabalha como estagiário na Sejusc. Vó a Senhora ia amar o Gabriel, ele tem o sorriso mais lindo do mundo. Meus filhos são bênçãos de Deus.

Calma, Vó, sei que a Senhora está doida para que eu dê notícias de sua queridinha: Rosinha!

Ela está bem, tornou-se uma bela mulher, batalhadora, formou em Direito e trabalha na Defensoria Pública, nosso Vô, ficaria orgulhoso de saber isso, conta para ele, Vó. Rosinha é uma mulher de Deus, casou-se e tem um filho do coração, o Paulo Victor, um rapazinho muito lindo que amo de paixão.

A Tia Maria está bem, encara a vida sempre muita alegria de viver, mulher admirável, guerreira e ficou muito parecida com a Senhora, amo minha Tia linda, foi tudo que restou para mim, da nossa história, nela vejo toda vida que vivíamos juntos.

Tempos bons, sobraram as lembranças para guardamos.

Tio Bartolo e Tio Zé, nunca os vejo, mas pelas notícias que chegam, estão bem velhinhos.

Meu pai e minha mãe estão bem, graças a Deus.

O pai teimoso que só ele. Vó a Senhora acredita que outro dia ele foi no Mercado Central, sozinho, e, um carro passou em cima do pé dele. Ontem estive lá na casa dele, o pé estava inchado e com dificuldade para andar. Lembrei muito que se o Vó estivesse aqui, primeiro daria um sermão nele para ser mais cuidadoso e depois puxaria o pé dele, e deixaria ele bonzinho, mas ele já melhorou.

A mãe, na segunda-feira, caiu em um buraco, estava chovendo muito, e ela não viu a vala, eu estava com ela, sumiu bem na minha frente, tomei maior susto, mais graças a Deus , machucou só a perna, mas o susto que levei, faz eu gelar até agora. Eles são nossa benção maior. Amamos nossos pais.

Vó, eu vou ficando por aqui, e peço que não esqueça de interceder por cada um de nós, junto a Deus Eu te amo muito, minha Vozinha querida.

Tua neta: Leninha.

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Astrid Kampf Beutler

    Amor a vocês duas...que...

São centrais nas memórias do meu coração... Eu não seria eu se não as tivesse tido de forma tão intensa pelo meu viver a fora...Ativas, presentes sempre nos sentimentos, nos valores.

Vocês duas... A primeira me tirou do seu ventre com carinho, afeto e educação deu-me por quase 10 anos... e um dia inesperadamente voou para junto do Pai Criador que achou por bem ter mais um anjo perto de Si... Si com letra maiúscula porque é o nosso PAI... Na hora em que ela nos daria mais dois irmãos, Ele a rodeou de vermelho e levou os três consigo. De lá muitas foram as bênçãos que jorraram sobre os que ficaram para que secassem as abundantes lágrimas que traduziam o tamanho da perda de tão amorosa e prendada Mãe. Que falta nos fez!!!! Que incrível foi aquele pai terreno que se transformou, da noite para o dia, em pai e mãe. Sim, conscientemente ele fez isto. Fez de tudo para que as lágrimas diminuíssem e a casa continuasse funcionando da melhor forma possível. Ficava conosco todo o tempo que suas obrigações fora de casa permitissem. Na hora das refeições passou a servir os pratos como ela antes fazia para os três filhos... pequeno exemplo que hoje fala bem alto no meu coração. É como se ele dissesse: Eu estou aqui pra vocês... Sabem que podem contar comigo. À noite os filhos se revezavam dormindo com ele no leito que havia sido dela... Nos finais de semana, passeios, encontros com a grande família: a dele e a dela. Nunca perdemos os vínculos... Família é riqueza, é crescimento, é compromisso...

Um dia, ficamos mais ricos... Foi num domingo depois do almoço que ele me chamou para conversar com exclusividade e perguntou:

– O que tu achas se eu me casar com a Dona Betty?

Ela era a professora que eu mais gostava na escola. Minha professora de Trabalhos Manuais e Educação Física. As aulas mais divertidas da escola!!!

Olhei pra ele e afirmei com toda a segurança:

– Eu acho bom ....!!!!!

– Então vai chamar os teus irmãos. Fui. Esta próxima conversa eu não ouvi.

Veio o casamento. Veio para a nossa casa, que a estas alturas já era em outro imóvel, outra grande Mãe. E enriquecemos mais com uma terceira família, a grande família dela!!! Nesta tivemos uma avó muito próxima, muito dadivosa e cheia de um amor que jamais esqueceremos. E vieram mais dois irmãos e passamos a ser cinco. Cinco, igual e totalmente irmãos até hoje!!!

Linda vida! Lindas mães! Sou muito, muito grata ao Senhor da Vida que me permitiu tanto aprender destas ricas Mães que Ele nos deu. Grata, Grata. Com o coração cheio de AMOR eu agradeço todos os dias!!!!

Com o coração e a mente envolvo meus braços nestas mães e com Fé agradeço ao Pai Celeste por todo Amor recebido,

Astrid Kampf Beutler

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Avani Corrêa

Carta aos meus queridos Pais, primeiros mestres.

Ouvindo o tilintar das gotas de chuva batendo no telhado e com um olhar introspectivo revisito as lembranças que tiveram significado e se transformaram em experiências que contribuíram para a construção de minha identidade pessoal. Ao reacender recordações desde a infância, relembro cada ensinamento exemplificado nas ações diárias. De modo, que fica difícil revisitar minha vida sem que os identifique em cada lição. A justificativa é simples! Meus pais nunca tiveram a oportunidade de frequentar a universidade, porém, o conhecimento deles revestido de sensibilidade me ensinou o alfabeto da escuta, da gratidão, da honestidade, do respeito e da arte de recomeçar.

Minha mãe foi minha primeira professora, ela que me “ensinou a ler e a escrever”. Ensinou-me também por meio de suas atitudes a não desanimar diante das intempéries da vida, a ser otimista, a sorrir com a alma e a ter gratidão não só pelas pessoas, como também pelos fatos. Enquanto que meu pai com seu dom literário presenteou-me com contações de histórias fantásticas do mundo mágico da literatura infantil, e ainda com histórias e piadas por ele elaboradas; ensinou-me também o valor do diálogo, da escuta e do respeito. Ainda guardo lembranças, da delicadeza, do respeito e amor com que meu pai tratava minha mãe. Quando viajava, enviava cartas repletas de declarações de amor. Apesar de se deleitar com as cartas minha mãe sempre apresentava um rubor facial, certa timidez.

Há anos eu sobrevivo à saudade... Apesar disso, continuo prosseguindo aprendendo a lidar com o vazio deixado face a perda significativa, e vou ressignificando minha vida. As lembranças acalentam Minh ‘alma e traz a convicção de que continuamos conectados pelos fios do pensamento e do coração.

Na certeza da comunhão que ainda nos une, me despeço. Ah, apareçam em sonho de vez em quando.

Peço a sua benção!

Com saudades e amor incondicional, sua filha

Na busca eterna também de ser mãe

Abraço os teus ensinamentos que vão

Iluminando minha caminhada e

Realizando sonhos que a vida proporciona.

Obrigada pela chance de ter sido "a filha".... gratidão por tudo...

Avani Corrêa

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Camila Peixoto Maia

Carta aos novos médicos

Nesse período de comemorações é comum ouvirmos falar de gratidão. Sobre isso, a Bíblia conta uma história muito interessante de dez leprosos que pediram a Jesus que os curassem. Jesus mandou que eles fossem se apresentar ao sacerdote. No meio do caminho, foram curados, mas de todos os dez, apenas um voltou, se ajoelhou diante de Jesus e rendeu graças. Que nós sejamos como aquele que retornou e reconheceu a benção dada pelo Senhor.

Meu versículo favorito da Bíblia é Provérbios 31. 21“Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, mas a vitória vem do Senhor.” Que possamos reconhecer que quem nos sustentou durante todos esses anos foi o Senhor. Que mesmo que nós tenhamos estudado e preparado o nosso cavalo para a batalha, nós não teríamos a vitória se não fosse por Ele, que nos tem feito vencedores.

Mas hoje eu não quero falar só de gratidão. Quero compartilhar uma passagem que se encontra em Mateus 9. 35-38. "Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. 36Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor. 37Então disse aos seus discípulos: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Peçam, pois, ao Senhor da seara que envie trabalhadores para a sua seara”.

 O versículo trinta e cinco começa dizendo que Jesus percorria todas as cidades e povoados, sua palavra não ficava restrita à sinagoga... Jesus estava em contato direto com as pessoas, principalmente com as mais necessitadas como os pobres e doentes.

Nosso país se encontra em situações precária. Cerca de metade da população não tem acesso à rede de esgoto, seiscentas mil pessoas são assassinadas anualmente e milhões se encontram em estado de extrema pobreza e miséria. Nós como médicos que somos agora, não podemos simplesmente virar as costas, entrar nas nossas casas e carros de luxo e fingir que nada está acontecendo. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e merece ser dignificado.

A passagem bíblica ainda nos diz que ao ver as multidões, Jesus teve compaixão delas. Compaixão significa se colocar no lugar do outro. A Bíblia afirma que todos os mandamentos podem ser resumidos em apenas dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo.

Cada pessoa foi colocada nesse mundo com um propósito. Não existe pessoa mais importante do que outra. Se estamos aqui como médicos, isso é propósito de Deus, não para vivermos de forma egoísta, mas para possibilitarmos alívio e conforto ao necessitado.

Martin Luther King uma vez disse: “Não me surpreendo com o grito dos maus e sim com silêncio dos bons”. A minha oração é que Deus não nos deixe ficar em silêncio e, assim como Jesus, que nós tenhamos compaixão, que não sejamos mais um punhado de médicos avarentos buscando riqueza acima de tudo, mas que possamos usar o nosso conhecimento para impactar positivamente a vida de cada paciente que passar por nós e trazer dignidade e esperança aos doentes, carentes e necessitados. Que nós possamos sempre lembrar que as pessoas são muito mais importantes do que as coisas.

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Célia Mara Alves Ferreira

Belém, 7 de novembro de 2019

Saudações,

Desejo que ao receber esta carta estejas gozando de boa saúde, pois sei que quando estiveste por aqui, foste rejeitado e maltratado por muitos.

Hoje é um dia daqueles, só você sabe, porque conheces bem meu coração. Mas tô superando. Porém eu estou te escrevendo por outro motivo, quero agradecer tudo que tens feito por mim, bem como da tua permanência a meu lado o tempo todo, sem julgamento ou cobrança, apenas me dando esperança e conforto, refrigerando meu coração nos momentos críticos do dia a dia. Compreendo perfeitamente que não sou a única a quem tens prestado tua ternura, sei quantos e quantas tem clamado por teus conselhos e ajuda. Deves estar muito ocupado com tantos pedidos, afinal são muitos que te procuram, ainda bem que tens tempo para todos.

Desde a tua passagem por aqui, muita coisa mudou, o livro que deixaste para nós, sofreu várias modificações, cada um quer colocar o seu ponto de vista de acordo com os seus interesses, mesmo sabendo que nem uma vírgula será retirada daquilo que falaste. Não sei se em outras cartas que tu recebeste te falaram de uma oportunidade que recebemos para poder contar tudo que está acontecendo aqui, eu, aproveitando esta deixa, corri para escrever esta Carta pra Você. Sabe meu grande amigo, a nossa morada tem passado por muitas aflições, há desrespeito total, você acredita que tem muitos se achando imortais? Recentemente despejaram óleo no oceano e com isso poluiu várias praias e rios, acabando com a beleza do colorido das águas e com o alimento da casa dos meus irmãos. Além dessas barbáries todas, ainda tem mais desigualdades, lutas de classes, terrorismo, e etc... na minha opinião o mais grave é a falta de amor. Não é fofoca, mas eu queria te dizer que mexeram no teu relógio, alteraram as estações, acho que escangalharam os ponteiros, poxa, mal converso com a lua, e o sol já vem pedindo licença pra falar comigo. Sabia que o pessoal daqui já percebeu tudo isso, mesmo assim ignora? Penso que esqueceram que disseste que tu ias, mas que tu voltavas pra tomar nossa lição.

Por fim meu amigo, eu quero te agradecer por tudo que tens feito por mim e pelos meus irmãos, e dizer que é com muita alegria que aguardo a tua volta.

Finalizo esta carta me deixando à tua inteira disposição pra continuidade da tua obra.

Carinhosamente,

Célia Mara

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Cleana Erotilde Corrêa Brum

São Sepé, 7 de julho de 2010

Estimada professora Vera,

Em tempos modernos, onde a velocidade dos meios de comunicação com tecnologias de última geração, notadamente do computador, que nos oferece um “Word net” de comunicações, possibilitando-nos, instantaneamente, relacionamentos de toda ordem com as mais distantes partes e pessoas do mundo; é muito prazeroso contar com a adesão de tantas pessoas, tantos jovens ávidos de escrever e ao mesmo tempo temerosos... (de escrever) afinal são tantas as dificuldades da nossa Língua Portuguesa! Senti-me um pouco visionária quando idealizei essa nossa “rede de relacionamento” entre os alunos das escolas rurais, que carinhosamente chamei de Correio Elegante, contudo não desisti de realizá-la, porque desejei tantas coisas com isso... Desejei que os nossos alunos sentissem o inusitado prazer de receber uma carta, abri-la, cheirá-la, apalpá-la entre as mãos e ver impresso em papel a mensagem que um amigo lhe envia; Desejei, também, resgatar a elegância na e da escrita, quando nossas palavras são nosso primeiro cartão de visitas – isso me parece um pouco “desconfigurado” nos modernos meios de comunicação; Desejei, ainda, que nossos alunos descobrissem o valor da escrita como documento, pois poderão guardar essas cartas, quem sabe para depois deles mesmos...; Desejei, por fim, despertar-lhes a expectativa da próxima carta, do próximo amigo, das próximas palavras. Entendo que essa é uma maneira lúdica de lidar com as palavras. Foi uma agradável surpresa receber tua carta e dessa forma desfrutar tua companhia. Divide, por favor, essa emoção com teus alunos, a quem envio um grande abraço e agradeça-lhes, em meu nome, por estarem participando desse momento tão especial que o correio elegante nos oportuniza. Nada nasce grande, tudo começa com a semente, e tenho certeza, nosso trabalho, essa semente, logo será aquela jabuticabeira majestosa que nos abrigava da chuva e do sol em dias de angariar “carona”, nessa cidade de Formigueiro. (“Formigueiro querência que mora no meu coração...”) Abraça, por mim, cada um dos teus alunos.

Gratidão.

Abraço grande!

Com carinho e amizade.

Cleana Erotilde Corrêa Brum

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Daura Nila Brasil Corrêa da Silva

DÁDIVAS DE JESUS

Meu JESUS, sei que tudo sabes de mim, desde que vencedora fui o óvulo premiado.

Acompanhaste meu nascimento, minha vida infantil cheia de peraltices, minhas brincadeiras e Você sempre me amparando e protegendo.

O tempo passou um pouco e a adolescência chegou com muita timidez, mas Você nunca me abandonou. Estudei com dificuldade, mas sempre sob teus cuidados Divinos. Trabalhei, cedo me apaixonei, casei e Você a me guiar e dirigir.

Filhas nasceram, cresceram, netos me proporcionaram graças a Você Jesus amado.

Obrigada, meu Jesus por todos os familiares e amigos que me ajudam a transcorrer os dias. Pelo alimento que sacia meu corpo e refrigera minha alma. Pelo lar que me abriga das intempéries da vida. Pelo Parque Municipal do Idoso, onde pratico atividades físicas, mentais e culturais, relacionando-me muito bem com outros usuários, funcionários e diretoria. É Você que fornece as amizades que preenchem meu ser de alegrias e bom ânimo na jornada de reconhecimento.

Hoje mais do que nunca possuo a Você com gratidão, pela saúde e lucidez que me proporcionas, pelos talentos que Me forneces durante todo meu caminhar.

Sustenta-Me no bem, na fé, no amor ao próximo, na paz, na felicidade que harmonizam meu coração. Você alimenta minha alma com gentileza, numa demonstração de Pai amoroso e bom. É o médico Divino que cura meus males, o Eterno Amigo que me segue em silêncio com gesto de brandura. É meu amparo desinteressado, sou vitoriosa na vivência graças a Você meu Jesus.

Infinitude de bênçãos Você me envolve gratuitamente pelo amor divino. O sol que me aquece e ilumina. O oxigênio da atmosfera que renova o ar que respiro e mantem todos os seres vivos sem necessidade de escavação de minas. A abóbada celestina que à noite a lua e as estrelas brilham no céu azulado, inspirando poetas apaixonados. Riquezas do reservatório divino que Você proporciona na Natureza benfazeja. Benfeitorias e bênçãos que enriquecem os dias com gratidão.

É o semeador dadivoso de minha esperança, o Sublime Governador do Planeta Terrestre. Meu sorriso é de alegria e contentamento porque creio e amo você com humildade e respeito meu Jesus.

Poucas palavras para tão grandes bênçãos propiciadas a minha vida por Tua misericórdia divina. Por todas as dádivas minha fervorosa e humilde gratidão eterna.

Daura Nila Brasil Corrêa da Silva

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Doroni Hilgenberg

Vida Breve

Para o amigo e escritor Laérson Gontijo Maia

Meu amigo...

Recebi sua cartinha

E a tua poesia

Fez-me bem ao coração

Tu falas...

De uma vida muito breve

Como a pluma de tão leve

A brincar em nossas mãos

Tu falas...

De alegrias e de dores

De ilusões e não de amores

E de um tempo rápido a passar

É verdade,

Essa vida é insegura

E com tanta amargura,

Não sentimos mais o amor

Esta vida

É tão breve transitória

Uma pequena aventura

Que ficará só na história

Porque será

Toda essa solidão?

Se a vida explode intensa

em cada canto, em cada flor

Quero crer...

Serás sempre meu amigo

Contarei sempre contigo

Na alegria e na dor

Ah... amigo

Eu te ofereço esta poesia

E quero que a alegria

Habite em teu coração

Doroni Hilgenberg

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Edineide Sousa Pessoa

Manaus (AM), 23 de agosto de 2019.

Querido Deus,

Hoje acordei feliz, como coração cheio de amor e gratidão ao Senhor. Obrigada pelo teu grande amor para com tua filha.

Estou completando 58 anos de idade e lembrei muito de minha mãe e de meus irmãos. Como um filme na minha cabeça, as lembranças vieram, os sonhos, as dificuldades e os desafios enfrentados.

O Senhor lembra de quando minha mãe foi para Tefé com quatro filhos e grávida de minha irmã mais nova, a Glória Regina? Cansada de tanto sofrer, separou de meu pai e nos levou para Tefé, pensando em proporcionar um futuro melhor para nós.

Foi um recomeço com muitas dificuldades, porém, com muitas esperanças. Considerando que minha mãe era uma mulher temente a Deus e tinha punhos de ferro. Ela sempre nos dizia que deveríamos confiar em Deus, pois Ele nos livraria de todo o mal. Obrigada Pai!

Uma das cobranças que mamãe sempre nos fez é que deveríamos estudar e termos uma profissão. Conseguimos. Chegou a nossa formatura. Foi uma alegria muito grande para ela, sonho realizado. Obrigada pai!

Quando mamãe pensou que curtiria os filhos em seu lar, se iniciava um novo ciclo, filhos casando, novas famílias se constituindo. Víamos a tristeza em seu rosto pela separação. Mas com a chegada dos netos, a tristeza se transformou em alegria. Obrigada Pai!

O ano de 1988 foi difícil para nós, mamãe estava com o coração fraco, teve que fazer uma cirurgia para trocar as válvulas. Ela estava frágil, a família se mantinha unida cuidando dela. Todos a amavam muito. Ela era linda, com 59 anos, tinha somente alguns fios de cabelos brancos, tinha uma pele linda, apesar de trabalhar muito, sua mão era macia como de uma criança. Obrigada Pai pela vida de nossa mãe!

Chegou 1989, ano mais difícil ainda, em 22 de novembro mamãe nos deixou e foi morar com Deus. A família chora a perda da mulher corajosa, íntegra e maravilhosa. Mas o Senhor nos deu o devido consolo, nos lembrando do grande legado que ela nos deixou: amor, união, honestidade e temor ao Nosso Deus. Obrigada Pai!

Sou grata a Deus pela família que nos deu, minha mãe, meus irmãos, meu esposo, meus filhos, netos, nora, genro, cunhado, cunhada e sobrinhos. Obrigada Pai, porque sei que o Senhor tem o melhor para nós!

Edineide Sousa Pessoa

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Fabiane Siqueira

O Amor nos Encontrou Primeiro

Existe uma máxima que diz: Meu sonho é encontrar o verdadeiro Amor! Pois eu digo que o Amor nos encontrou, e por isso podemos dizer que sabemos o significado desta palavra, isto é, você procura por algo que precisa ser vivido e não encontrado.

Amar é se entregar de corpo e alma, é sangrar até que não reste mais uma gota de sangue, é cair muitas vezes devido ao peso da cruz, mas não desistir, é se sentir sozinho, mas não tirar os olhos do que é essencial, do porque maior. 

Compreenda que não estou falando a você no sentido literal, até porque o Amor (Jesus, Deus encarnado, já sofreu desta maneira), mas estou falando de uma entrega diária, de vencer seus medos, suas inseguranças, seus ímpetos desordenados e sentimentos destrutivos. A luta é para que o Espírito governe o corpo. Amar é lutar contra a nossa própria vontade quando a mesma não está de acordo com o que O Espírito diz que é certo. Amar é renunciar o desejo destrutivo, é levantar quando algo não sair tão bem ou quando a vida lhe der uma rasteira. É saber que em cada queda existe um sentido maior, é aprender com elas, é levantar mais forte, é ressignificar a dor. É ter a plena certeza de que eu construo o meu caminho não delegando a outros o que é função minha. 

Jesus nos ensinou isso! Para cumprir seu propósito ele precisou viver todas as etapas, foi traído, julgado, humilhado, açoitado, negado, caiu muitas vezes, chorou, se entristeceu, derramou até a última gota de sangue e morreu... Mas também perdoou, teve Misericórdia, foi humilde, foi fiel ao plano de Salvação, levantou, confiou no Pai, ressignificou toda a dor, assumiu seu propósito e Ressuscitou. Em que etapa você está? Ainda a procura do amor? Ou já vivendo o amor? 

Não importa quem na terra represente para você esse amor, pode ser seu esposo, seus pais, seus filhos, suas ovelhas, seus pastores...

O importante é que você compreenda que devemos amar uns aos outros como ele nos amou. 

Por isso, Ame! Pois fomos criados para o Amor e pelo Amor. Nossa essência é sermos reflexos desse amor e a falta dele em nossas vidas é pior do que a Morte. Quem não ama já morreu.  Morreu para a plenitude da Vida.

Ame, se relacione com o Amor e sua vida fará sentido. 

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” I Coríntios 13:13

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Francisca de Lourdes Louro

Meu Pai

Meu Pai, reconheço que sempre teve um carinho especial por mim, desde tenra idade, e sempre foi correspondido. O senhor Raimundo está sempre no meu coração. Obrigada a Todos os amigos e até as irmãs, que deram atenção a esse desabafo domingueiro. Valeu.

Aos domingos, de quando em vez, recebo a visita do meu velho Pai. Sempre traz alguma coisita para agradar a filha Primogênita. Hoje, trouxe adubo para minhas plantas, em especial as Frutas do Conde, Ata, que ele plantou na porta da minha cozinha. Quando o deixo no portão, o novo hábito de toda vez: pede para eu tirar os óculos para me ver como estou. E chora toda vez. E eu rio, para ele não ficar infeliz. Mas quando ele sai, desabo. Ele ainda espera pelo milagre.

Francisca de Lourdes Louro

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BIBLIOTECA RAIMUNDO COLARES RIBEIRO

Transcritos da Antologia UMA CARTA PARA VOCÊ. Organizadora: Kátia Maria dos Santos Colares Ribeiro. Color Gráfica. Manaus (AM), 2020, páginas: 27/29; 30/33; 38/40; 41/42; 43/45; 46/47; 48/49; 51/52; 55/56; 57/58; 61/62; 63

Seleção de textos: Kátia Colares Ribeiro